terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Enedina Alves Marques - Primeira Engenheira Civil negra do Brasil.

 

Enedina em sua formatura em 1945

ENEDINA ALVES MARQUES

(1913-1981)

Ana Crhistina Vanali

Enedina Alves Marques, negra e de família pobre, foi a primeira mulher a se formar na Faculdade de Engenharia do Paraná, tornando-se assim a primeira engenheira civil negra do Paraná e do Brasil.

Enedina, também conhecida como Dindinha, nasceu em Curitiba em 8 de janeiro de 1913. Filha de Paulo Marques e de Virgínia Alves Marques (Nhá Duca). Os pais se separaram quando ela ainda era criança. A mãe era lavadeira e durante a infância de Dindinha foi morar e trabalhar na casa da família Nascimento. O major e delegado de polícia Domingos Nascimento Sobrinho, patrão da mãe de Enedina, casado com Josephina do Nascimento Teixeira, foi o incentivador de seus estudos. Ela foi alfabetizada por volta dos 12 anos de idade na escola particular da professora Luiza Netto Correia de Freitas. Realizou o exame de proficiência e concluiu o curso primário no grupo escolar anexo à Escola Normal. Entre os anos de 1926 e 1931 fez o curso da Escola Normal Secundária juntamente com Isabel, a filha do major Domingos, que lhe pagou o bonde durante a formação como normalista para que fizesse companhia à filha. Durante toda essa fase da sua formação trabalhou como criada de servir e de babá para a família Nascimento.

No ano de 1932 iniciou sua carreira como professora da rede pública de ensino. Interrompeu seu trabalho de doméstica na casa da família Nascimento e seguiu para o interior do estado para atuar como professora no Grupo Escolar de São Mateus do Sul. Lecionou também no Grupo Escolar de Cerro Azul, no Grupo Escolar Barão de Antonina em Rio Negro, na Escola Isolada do Passaúna em Campo Largo. Retornou para Curitiba em 1935 e foi trabalhar na Escola da Linha de Tiro do Juvevê. O seu regresso à capital ocorreu para realizar o Curso de Madureza, exigência da nova legislação da Instrução Pública, que era um curso de capacitação profissional de três anos de duração para o exercício de professor. Nesse mesmo ano, para complementar seu rendimento abriu uma escola particular para crianças que não frequentavam a rede pública. Realizou o Curso de Madureza no Ginásio Novo Ateneu finalizando-o no ano de 1937. Um dos seus colegas de curso, Jota Caron, foi seu intermédio junto à família Caron com quem Enedina foi trabalhar e morar.

Entre 1938 e 1939 realizou o curso de pré-engenharia para prestar os exames de ingresso na Faculdade de Engenharia do Paraná. Nessa época, durante o dia trabalhava como professora e nos trabalhos domésticos da residência da família Caron. À noite frequentava o curso preparatório e nas madrugadas copiava a matéria dos livros que não tinha condições de adquirir e que emprestava dos colegas para estudar (SANTANA, 2013). Morou com essa família até o ano de 1954 quando se mudou para um apartamento no Edifício Tijucas no centro de Curitiba.

No ano de 1940 entrou para a Faculdade de Engenharia do Paraná. Alguns casos de perseguição, preconceito e discriminação que sofreu durante a realização do curso são relatados por pessoas que a conheceram e foram entrevistadas por Santana (2013). Formou-se engenheira em 1945 aos 32 anos de idade.

No ano seguinte a sua formatura, em 1946, Enedina começou a trabalhar na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná de onde saiu aposentada em 1962. Durante essa fase exerceu várias funções: foi chefe da seção de hidráulica, chefe da divisão de estatística, realizou o levantamento topográfico da Usina Capivari-Cachoeira, participou da construção da Usina Parigot de Souza, do Colégio Estadual do Paraná e da Casa do Estudante em Curitiba. Durante um tempo exerceu o serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura. Santana (2013) aponta que Enedina teve seu trabalho e capacidade técnica reconhecidos pelos governadores Moyses Lupion e Ney Braga, o que lhe permitiu construir uma rede de sociabilidades e receber uma compensação profissional através de decretos, dispositivos legais que revisaram a contagem de seu tempo de serviço e a sua remuneração, o que parece ter lhe garantido uma aposentadoria rentável.

Enedina faleceu em Curitiba, aos 68 anos, vítima de infarto no dia 20 de agosto de 1981, solteira e sem filhos. Está sepultada no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, num túmulo mantido pelo Instituto de Engenharia do Paraná.

Em 2006, Enedina foi homenageada com a inscrição de seu nome sob o número 237 no Livro do Mérito do Sistema CONFEA/CREA", dedicado a lembrar profissionais falecidos por suas contribuições para a melhoria da qualidade de vida e progresso da sociedade¹s. Em 2013, ano do centenário do seu nascimento, sua memória foi recuperada por meio da publicação de várias reportagens dando conta da sua existência. As narrativas biográficas consultadas sobre Enedina procuram passar a imagem de alguém que venceu na vida pelo próprio esforço, que não se contentou com as "migalhas" que eram reservadas ao pobre, preto e mulher, saindo da invisibilidade. Desconhece-se que Enedina tenha feito odes feministas ou em prol da igualdade. Mesmo assim, se tornou uma popstar. Virou bandeira flamejante no movimento negro e objeto de estudos de gênero, mesmo que nos seus 68 anos de vida não tenha demonstrado simpatia por nenhuma das duas causas. Hoje, Enedina empresta seu nome para uma rua do bairro Vila Oficinas em Curitiba", está imortalizada ao lado de outras 53 pioneiras no Memorial à Mulher Pioneira do Paraná (inaugurado no ano 2000), batiza o Instituto de Mulheres Negras de Maringá (fundado em 2006), um centro municipal de educação infantil em Pinhais e o Coletivo Enedina dos estudantes afro- descendentes da UTFPR/Campus Curitiba (fundado em 2015). Tudo isso porque ela conseguiu transpor um espaço hegemonicamente elitizado, masculino e branco ao se diplomar em engenharia sendo pobre, mulher e negra.