"BETY ORSINT
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Figura fascinante e personagem deslocada de seu tempo, Eufrásia Teixeira Leite (1850/1930) ficou conhecida pelo romance com o abolicionista Joaquim Nabuco. Mas também chamou atenção em Paris por ter sido cliente de Charles Frederick Worth, o pai da alta-costura. Seu universo è pesquisado há um ano por um grupo da escola de Design da Universidade Veiga da Almeida e o seu acervo, com peças do estilista francês, está na Casa da Hera, em Vassouras.
Nascida numa época em que as mulheres eram criadas para casar, Eufrásia foi educada pelo pai, o comissário Joaquim Teixeira Leite, um financista do café nos tempos do Império. Das nove
milhões de sacas de café que o Brasil exportava por ano, um milhão e meio era de Vassouras.
- O pai de Eufrásia financiava os produtores do plantio até a colheita e, assim, ganhou dinheiro-explica o pesquisador Flávio Bragança.
Eufrásia multiplicou a herança, investindo em empresas totalmente novas para a época (petróleo, cerveja etc) e comprando uma quantidade imensa de ações. Morreu em 1930 e deixou a maior parte de seus bens como herança para entidades filantrópicas de Vassouras. Uma das cláusulas de seu testamento pedia que a Chácara da Hera fosse conservada com tudo que nela existisse no mesmo estado de conservação, não podendo ocupar ou permitir que fosse ocupada por outros. A casa e as terras da chácara foram herdadas pelo Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus e, em 1952, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como expressão do cotidiano de uma família rica de fazendeiros e comissários de café do século XIX. Em 1965, passou a ser aberta à visitação pública.
O romance com Joaquim Nabuco durou 14 anos. Eles se conheceram durante um passeio pela enseada de Botafogo.
-Em 1873, eles se reencontraram no navio Chimborazo, rumo à Europa, e começaram o romance. Terminaram tudo porque Nabuco gostava demais de mulheres que não eram a sua - conta o pesquisador Flávio Bragança.
CARTAS COM DECLARAÇÕES EXPLÍCITAS DE AMOR
Tida como durona, a verdade é que Eufrásia Teixeira Leite não resistiu aos encantos de Joaquim Nabuco. Ao menos é isso o que mostram as cartas escritas por ela ao abolicionista: "A espécie de entorpecimento que causou-me a sua presença tirou-me todos os meios, não soube o que dizer e o que fazer" (Paris, 20 de abril de 1884).
Um ano depois uma declaração de amor explícita foi encontrada num bilhete: "Eu te amo de todo o meu coração" (Tijuca, 8 de dezembro de 1885, quando estavam hospedados no Alto da Boa Vista).
OFERTA DE DINHEIRO PARA O AMANTE ENDIVIDADO
O romance terminou depois que Eufrásia escreveu uma carta oferecendo dinheiro para um endividado Nabuco. A correspondência escrita em 18 de abril de 1887 foi o golpe final: "Eu tenho algum dinheiro e não sei o que fazer dele, compreende que me é muito mais agradável emprestar a si que a
um desconhecido, de sorte que, ao mesmo tempo que me faz prazer, ele pode servi-lhe a qualquer coisa de vantajosa aí em Londres, e fazer-lhe ganhar bastante, para livrar-se de trabalhos aborrecidos, por mais agradáveis e úteis. Nabuco ficou ofendido com a oferta e rompeu definitivamente.
- Não existe a resposta dele para ela - conta Flávio.- Eufrásia pediu que queimassem todas as cartas escritas por Nabuco. Dessa forma, só conhecemos a resposta de Eufrásia.
- "Não devia ter lido a minha carta como escrevi, mas como a senti. Não sei escrever e muito menos a si."
Pouco se sabe da mãe de Eufrásia, que era dona de casa. De sua irmã Francisca sabe-se que tinha um problema no quadril que restringia suas atividades.
- Depois que os pais morreram, as irmãs decidiram ir viver em Paris. Pegaram a herança, libertaram os escravos e foram. Eufrásia tinha 23 anos na época.
COUTURIER DA IMPERATRIZ DA FRANÇA E DA BRASILEIRA DE VASSOURAS
O jovem Charles Frederick Worth vendia tecidos em Londres. Quando começou a fazer vestidos (pensando em vender mais tecidos), decidiu ir para a capital francesa aonde chegou com cinco libras.
- Em Paris, ele também criava vestidos para vender os tecidos. Foi nessa época que conheceu a vendedora Marie, com quem se casou, e que foi sua primeira modelo. Charles também criou os desfiles. Em 1857, abriu a Maison Worth & Boberg com um sócio, que, em 1857, começou a ser frequentada pela nata. E foi nessa época que ele conseguiu atrair a imperatriz Eugenia, uma mulher muito ligada à moda, que ajudou a difundir o uso da crinolina.
O primeiro encontro entre a imperatriz e o estilista teria sido um desastre não fosse a intervenção de Napoleão III. Charles levou uma roupa pronta, o que era considerado um desrespeito na época. Eugenia detestou o vestido de seda brocado. Felizmente, o imperador entrou na hora do encontro e ouviu Charles explicar que o brocado tinha sido produzido em Lyon, que era uma tendência republicana, de oposição ao imperador.
-Ele lembrou que, se a imperatriz usasse o tecido, isso seria um ganho político para o imperador. Então, ela capitula ao pedido do marido usando o vestido três vezes em aparições públicas - conta Flávio,lembrando que a clientela do estilista era feita de nobres e de atrizes como Eleonora Duse e Sarah Bernhardt.
Charles vestia os novos ricos com luxo, pedrarias, tecidos importados e muita seda. Em alguns anos, tornou-se o costureiro oficial da corte. Ficou rico e teve dois filhos. Sua maison durou cem anos. Na Casa da Hera, onde viveu Eufrásia Teixeira Leite, existem 40 peças do estilista: vestidos, mantos para saída de teatro, roupa de montaria e um penhoar.
- Nosso projeto pretende criar cinco réplicas dessas roupas. A intenção é que cada uma delas reflita o ambiente de cada cômodo da Casa - encerra Flávio."
Fonte - O Globo - 10-01-2015
A Casa da Hera - Vassouras-RJ
Museu Casa da Hera
Construção da primeira metade do século XIX, a casa serviu de moradia para a família de Joaquim José Teixeira Leite, comissário de café, um dos personagens mais importantes daquele período. Foi também, bacharel em direito, deputado, presidente da Câmara de Vassouras e até vice-presidente da Província do Rio de Janeiro. Entre seus habitantes ilustres, destaca-se a filha mais nova de Joaquim José, Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), - figura de personalidade forte, habituada ao luxo e ao requinte de Paris. Ao morrer, em 1930, Eufrásia doou a entidades filantrópicas todos os seus bens, entre eles a Casa da Hera.
Tombada em 1952, a construção passou ao Iphan dez anos depois. Além do mobiliário, quadros e objetos de uso doméstico, seu acervo inclui ainda vasta biblioteca e uma coleção de trajes de origem francesa, considerada das mais importantes do Brasil.
Curiosidades:
>> Eufrásia foi noiva de Joaquim Nabuco. Se conheceram a bordo do navio que os levava para a Europa.
>> Frequentava a casa da Princesa Isabel, em Paris.
>> Morou em um palacete de 5 andares (na época) na Rue Bassano, 40 em Paris. O prédio existe até hoje.
>> Seu tio era o Barão de Vassouras.
>> Ao viajarem para Paris em 1873, após receberem a herança, Eufrásia e sua irmã Francisca deixaram dois empregados tomando conta da Chácara da Hera, um deles era Manoel da Silva Rebello, que cuidou da casa por 36 anos e plantou as heras em 1887.
Construção da primeira metade do século XIX, a casa serviu de moradia para a família de Joaquim José Teixeira Leite, comissário de café, um dos personagens mais importantes daquele período. Foi também, bacharel em direito, deputado, presidente da Câmara de Vassouras e até vice-presidente da Província do Rio de Janeiro. Entre seus habitantes ilustres, destaca-se a filha mais nova de Joaquim José, Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), - figura de personalidade forte, habituada ao luxo e ao requinte de Paris. Ao morrer, em 1930, Eufrásia doou a entidades filantrópicas todos os seus bens, entre eles a Casa da Hera.
Tombada em 1952, a construção passou ao Iphan dez anos depois. Além do mobiliário, quadros e objetos de uso doméstico, seu acervo inclui ainda vasta biblioteca e uma coleção de trajes de origem francesa, considerada das mais importantes do Brasil.
Curiosidades:
>> Eufrásia foi noiva de Joaquim Nabuco. Se conheceram a bordo do navio que os levava para a Europa.
>> Frequentava a casa da Princesa Isabel, em Paris.
>> Morou em um palacete de 5 andares (na época) na Rue Bassano, 40 em Paris. O prédio existe até hoje.
>> Seu tio era o Barão de Vassouras.
>> Ao viajarem para Paris em 1873, após receberem a herança, Eufrásia e sua irmã Francisca deixaram dois empregados tomando conta da Chácara da Hera, um deles era Manoel da Silva Rebello, que cuidou da casa por 36 anos e plantou as heras em 1887.
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Prédio de 5 andares onde morou Eufrásia em Paris.
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